Li um texto publicado por Wellington Moreira, da Caput Consultoria, onde ele basicamente contestava a famosa pergunta que os executivos e possíveis contratantes gostam de fazer para conhecer seu provável contratado: "Quanto tempo de experiência tens?" e dizia que experiência não é fazer repetidamente as mesmas coisas, mas experimentar, fazer coisas diferentes ou de um modo diferente.
Tenho pensado muito sobre isso. Porque fazer as mesmas coisas todos os dias, da mesma maneira, nos entorpece. No século passado, ´rebelar-se contra o "status quo"´era a frase preferida da geração dos meus pais, porque naquela época os limites eram mais estreitos e os estereótipos eram imensos: homem não chora, menina senta com as pernas cruzadas e veste saia, mulheres não comandam suas próprias vidas, precisam da aprovação dos maridos para qualquer coisa, e por aí afora.
E, se hoje a liberdade parece ser o lema da geração atual, sinto que às vezes essa mesma geração (e nós que vivemos nessa época), em meio à tantas possibilidades, se recolhe, se recusa a exercer o poder da escolha e repete sempre as mesmas coisas, para ter a sensação de estar segura.
Porque fazer coisas diferentes é arriscar-se. É executar um movimento nunca executado antes, é atrever-se por um caminho nunca andado antes. Não importa quantas vezes esse caminho tenha sido trilhado por outras pessoas, ele é um caminho completamente novo para quem nunca o fez. Ler sobre o assunto, aprender com as experiências dos outros é ótimo, serve de guia para não nos arriscarmos além do necessário. Mas não substitui a oportunidade viver nossas próprias experiências.
Percebo que andar todos os dias pelas mesmas ruas, almoçar todos os dias nos mesmos lugares, conversar todos os dias sobre os mesmos e repetitivos assuntos com as mesmas pessoas, enfim, permitir que a rotina assuma o controle das nossas vidas, nos leva a uma mente preguiçosa, que não se esforça mais, que procura o caminho mais curto e conhecido. Já diziam os sábios, temos tendência à acomodação. Nossa mente sabe disso, e está procurando sempre nos levar a executar mais rápido nossas tarefas, para nos acomodarmos mais depressa!
Qual o antídoto? Fazer algo diferente, de tempos em tempos, para manter a mente esperta, o oxigênio acordando cada fibra de nosso ser. Não falo de arriscar um salto de paraquedas sem o devido preparo. Falo de mudar algo na nossa conhecida rotina, nos movimentos corporais que executamos diariamente. Mudar um pouco a lente pela qual vemos o mundo, nos permitir pensar de uma forma diferente.
A busca por segurança, a redução de nosso paladar para sabores conhecidos e que nosso cérebro 'gosta", não é privilégio de um ou outro indivíduo. Todos tememos errar, e repetir o que deu certo parece ser uma boa fórmula para nos proteger do fracasso. Mas já perguntava o Rappa: "qual a paz que eu não quero conservar pra tentar ser feliz?".
Claro, arriscar-se é sem dúvida, se expor. E, porque não, pagar micos! Gostamos de rir das situações inusitadas ocorridas com os demais, mas geralmente evitamos a todo o custo protagonizar alguma delas.
Essa que eu vivi, lembro com carinho e ainda me divirto interiormente:
Quando eu residia no Chile e fui à trabalho para a Espanha, forcei o ritmo e concluí o trabalho 4 dias antes do previsto. Resolvi não retornar antes e estender a viagem para Paris. Como eu estava no norte da Espanha, fui muito fácil cruzar a fronteira de carro, tomar um avião no sul da França e descer no Charles de Gaule em Paris. Fui acompanhada de uma amiga e colega de trabalho, que fez comigo a viagem à Espanha. A primeira impressão, naquele imenso aeroporto, é de estar-se em um mar aberto, sem salva-vidas. Sem falar o idioma (apesar de ser fluente em Inglês e Espanhol), senti-me muito limitada, mas tratei de superar esse medo inicial, mergulhando nas possibilidades.
Como somos corajosos quando saímos de nosso habitat! Sempre acostumada a viajar com toda infraestrutura de uma corporação, em cada país que eu chegava já tinha à minha espera um carro com motorista, um excelente hotel reservado, um contato local para me guiar pelas cultura, gastronomia e idiosincrasias regionais.
Bom, essa não era uma viagem de negócios, era mais bem a oportunidade de conhecer Paris! Rapidamente, confesso, mas uma grande oportunidade. Estávamos tão perto! Nossa infraestrutura, nossa rede de segurança ficou na Espanha. Em Paris, estávamos por conta e risco.
Eu, pessoalmente, à exceção do Trensurb que usei uma ou duas vezes na juventude, nunca usava metrô. Minha amiga, apesar de residir em Santiago do Chile, que possui uma excelente rede de metrô, sempre teve carro, e desconfio que também nunca havia entrado em um. Pois bem, sem falar uma palavra em francês, decidimos ir para nosso hotel DE METRÔ, porque sabiamos que em Paris, de metrô se vai a todos os lugares.
Para economizar bagagem, deixamos nossas coisas em um hotel de Pamplona e fizemos uma mala única, com somente o essencial para os 4 dias de nossa aventura. Tudo o que levamos, compartilhados naquela mesma mala. Saímos do aeroporto, cada uma segurando uma alça da sacola de viagem. Eu, com as passagens, reserva de hotel, telefones, tudo na minha bolsa.
Corajosamente nos dirigimos para tomar o famoso metrô, afundadas no estilo de vida parisiene. Em Paris, locomova-se como os franceses! Chegamos na estação animadas, falantes, admirando até pixação nas paredes da estação subterrânea do Arco do Triunfo. Tudo era motivo de encantamento.
Eis que chega o tão esperado metrô. Muita gente entrando, eu e minha amiga carregando aquela pesada mala com todas nossas coisas. Eu, com medo de nao conseguir entrar a tempo no vagão, me apresso e atravesso a porta. Minha amiga vacila, e a porta do vagão se fecha à minha frente: eu do lado de dentro, com todo o dinheiro, endereço do hotel, passagens, vouchers de viagem... minha amiga e a mala do lado de fora, paradas na estação enquanto eu me afastava, olhando pelo vidro da porta...
A sensação de desespero foi horrível. Não conseguia pensar no que fazer. Uma senhora francesa, percebendo meu desespero, gritava alguma coisa que eu não entendia e meu cérebro, em curto-circuito, não interpretava os gestos exagerados daquela senhora. Até que finalmente entendi! Ela dizia (ou acho que dizia) para eu descer na próxima estaçao e esperar minha amiga. Foi o que fiz. Desci numa estaçao escura, onde fiquei sozinha uns 20 minutos esperando passar o próximo trem, rezando a Deus que minha amiga o tivesse tomado.
Para minha sorte, foi exatamente o que ela fez, e assim começamos nossa aventura de 4 dias por Paris: perdida uma da outra, uma com a mala e a outra com o dinheiro e endereço de hotel.
Você talvez esteja pensando: que maneira de se começar uma viagem! Pois eu digo: a melhor maneira! Nossos cérebros despertaram, rimos muito de nosso pequeno infortúnio, e esse foi o tom da nossa viagem pelos próximos dias. Nenhum novo imprevisto, tudo correu perfeitamente.
A partir daí, fomos a todos os lugares de Paris que alcançamos conhecer em nossa curta estada, usando o excelente sistema de metrô da cidade.
Ficou a lição: se quiser desfrutar de algo novo, prepare-se para viver alguns micos. Mas não se intimide, ria de seus enganos, aprenda com eles e siga o programa de sua viagem para Paris ou para o seu próprio futuro.
Tenho experiência. Muita. Inclusive a de me perder em Paris nos primeiros 30 minutos da viagem, para me reencontrar com minha amiga pouco tempo depois.
A partir de então, todas as vezes que os meios de transporte que uso para me conduzir de um problema à sua solução não funcionam, me lembro que existem metrôs! E busco outra forma de resolvê-los. Sempre dá certo. Se relaxarmos nossas travas no momento de crise, interpretamos até idiomas desconhecidos e nossos próprios pares nos ajudam a encontrar as soluções que nos faltam.
Não teria sido possivel constatar a solidariedade de uma gentil senhora francesa, se não tivéssemos tomado um meio de transporte ao qual nao estávamos habituadas.
Até o próximo Post!
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