Como esse blog se presta a comentar assuntos de interesse da comunidade importadora e exportadora, dos que nunca importaram, dos gestores de área e dos decisores nas empresas, não poderia deixar de comentar os erros mais comuns de avaliação nas oportunidades de negócios que se apresentam, especialmente quando se trata de um produto que depende de importação.
Quando não temos muita experiência com importações, e nos chega às mãos um excelente produto, com preço excelente, mas que se encontra fora das fronteiras de nosso país, tendemos a imediatamente considerá-lo um bom negócio. Se o preço é bom, convertido em reais, se o produto é bom, é um bom negócio! Não necessariamente. É preciso colocar tudo em perspectiva.
Quando temos experiência em importação, ela geralmente é focada em determinados setores, determinadas áreas, onde atuamos mais fortemente. O primeiro erro é acreditar-se generalista quando na verdade se é especialista. Ou seja: se a sua área de negócios é importação de carros e surge uma oportunidade de importar vinhos, esqueça tudo o que você sabe sobre importações. Humildade e postura de aprendiz é a melhor atitude para evitar cometer erros de avaliação. Usar o tempo a favor, e obter o máximo de informação antes da decisão é fundamentel.
Aproveitando o gancho dos produtos que mencionei, imagine-se um excelente importador de carros: você sabe onde conseguir os veículos no exterior, conhece os preços de mercado, sabe como esses carros devem ser acondicionados para o transporte longo e difícil por mar, dentro de containeres e com a correta amarração.
Você sabe que antes desses carros saírem da origem, é preciso cumprir uma série de exigências documentais relativas a VEÍCULOS. E que quando chegaram no Brasil, deverão cumprir com outra série de exigências para sua devida liberação no destino.
Ou seja, emitir as LI´s antes de embarcar a carga, obter as devidas anuências prévias da importação, cumprir com o RENAVAM e atender às exigências das agências reguladoras brasileiras que fiscalizam e regulam o setor de veículos.
Você, acima de tudo, conhece a carga tributária do produto em questão e sabe fazer uma conta rápida, partindo do preço FOB do veículo para determinar, com um grau relativo de precisão, o custo desse veículo depois da logística e das despesas aduaneiras no Brasil. Feito isso, você saberá se tem margem para trabalhar esse produto e qual é essa margem. Enfim, você é especialista no assunto veículos.
Muito bem. Mas a oportunidade agora é de importar vinhos. Você conhece de uvas, de terroir? Sabe classificar seu produto, para conhecer a sua carga tributária e seu tratamento administrativo na Aduana Brasileira? A sua unitização (como a carga será transportada) já não é a mesma. Nem sequer as dimensões e tipo de embalagem são as mesmas. O meio de transporte, as rotas, tudo mudou. Não se esqueça: agora não é mais RENAVAM a sua preocupação. Elas são outras: Ministério da Agricultura (MAPA) e Selo do IPI - para ser muito simples. Sem falar da carga tributária e da forma de tributação. Sua conta rápida para veículos jamais funcionaria para uma importação de vinhos, se usares os mesmos fatores de cálculo.
Se você já entendeu que não conseguirá saber tudo sobre todos os artigos importados, mesmo que se dedique à isso uma vida inteira, saberá que precisa cercar-se de profissionais especialistas na área que você quer agora atuar, que para você, é nova.
Aqui entra o próximo erro: a regra da humildade que vale pra você, vale também para avaliar o especialista que o irá ajudar.
Se o profissional que vai orientá-lo possui pouca ou nenhuma experiência em gestão ou naquele produto especificamente, se ele tiver como perfil fazer análises superficiais, baseado na sua “suposta” experiência com importações (do tipo: quem fez uma faz outra), os riscos de avaliação são maiores.
Porque ele também nunca passou pelo intrincado sistema burocrático brasileiro na importação daquele produto especificamente, e corre o risco de desconhecer ou errar procedimentos, que encarecerão e atrasarão muito o processo da sua importação. Afaste-se dos que dizem que tudo é muito simples. Essa é a resposta que você quer ouvir, mas normalmente não é a que vai afastá-lo dos problemas típicos de um negócio dessa complexidade.
Existe ainda a confusão entre um profissional de gestão de negócios e os despachantes aduaneiros. Esses últimos, altamente especializados na Aduana Brasileira, vem ultimamente se especializando também em gestão de negócios, mas é preciso saber encontrar o profissional que atende à nossa necessidade, se a avaliação que queremos fazer é puramente aduaneira ou se ela engloba o negócio como um todo, inclusive as análises tributárias e os possíveis benefícios fiscais.
O outro erro de avaliação muito comum é não levar em consideração os volumes a serem importados, o valor agregado da mercadoria importada, a incidência dos custos logísticos sobre o produto. Lotes econômicos de compra precisam ser muito bem dimensionados para o melhor aproveitamento dos custos logísticos. O que parece ser um bom negócio pode ser inviabilizado pelo errôneo dimensionamento dos lotes de compra. Não confundir com os MOQs (Minimum Order Quantities) do fornecedor. Essa é condição mínima de compra, mas não necessariamente a mais rentável.
E, por fim, os prazos. Comprar no mercado externo quando se está com pressa em atender uma demanda, é o caminho mais curto para o fracasso da operação.
O timing da compra é vital, e lembrar-se que uma importação é realizada por etapas: investigação, decisão de compra, produção, embarque e transito até o destino, liberação aduaneira na fronteira de ingresso no Brasil e finalmente, o transporte rodoviário até o destino final da carga. Um cronograma das etapas ajuda enormemente à administrar cada momento da importação e seus prazos.
Como uma importação conta com um lead-time longo, um bom projeto de importação prevê estoques reguladores e os corretos pontos de recompra, para evitar o desabastecimento.
Até o próximo post!
Consultoria e Treinamentos para empresas e indivíduos interessados nas oportunidades do mercado internacional, tanto a nível administrativo-operacional como estratégico-financeiro e desenvolvimento de competências específicas para usufruir desses mercados.
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Um comentário:
Eu ainda estou estudando de você, mas estou melhorando a mim mesmo. Eu definitivamente amo ler cada pequena coisa que está escrito no seu blog.Keep as histórias por vir. Eu amado -lo!
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