terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Uma empreendedora Afegã - História de Gestão

Fatema Akbari há muito tempo crê que a mulher pode fazer quase tudo o que um homem faz, uma forma de pensar não muito comum em seu país, no Afeganistão e certamente não compartilhado pela maioria de suas compatriotas. Essa convicção levou-a a optar pela carpintaria quando entrou para a área de negócios em 2003.
“Eu não estava particularmente interessada em carpintaria”, admite. “Mas eu queria ter um trabalho tipicamente masculino e eu queria que essa ocupação respondesse à uma necessidade”.

A empresa de Akbari, Guillistan Sadaqat, produz móveis de madeira: bancos, mesas, janelas e esquadrias, e também brinquedos infantis. Se por um lado o artesanato em madeira é útil, o negócio preenche uma necessidade ainda maior: proporcionar empregos. Akbari prioriza a contratação de mulheres – 82 até a presente data – cujos maridos tenham sido assassinados ou mutilados pela guerra. “ Qualquer pessoa que consegue um trabalho através do nosso departamento de veteranos, consegue devido a seu relacionamento com alguém lá dentro, não baseado em mérito. Muitas famílias passam por grandes necessidades, mas nunca conseguem uma resposta favorável, especialmente uma colocação no mercado de trabalho. Não é difícil encontrá-los, e essas são as pessoas que eu estou procurando” – diz Akbari, falando através de um tradutor.

Akbari também ajuda milhares de mulheres em sua área de negócios como representante eleita do Distrito 13 Shawra, ou conselho empresarial. Mulheres afegãs que começam seus pequenos negócios caseiros nas áreas urbana e rural, tornam-se membros de conselhos onde podem compartilhar recursos e conhecimentos. “Como membro do conselho de mulheres, eu trabalho fortemente com outras mulheres de negócios e disponibilizamos uma cobertura de serviços para 5,000 mulheres”, pontua Akbari.

O governo não tem participação nos assuntos do Distrito 13. Eles não ajudam em nada aos veteranos lá.

Mesmo com um network tão extensivo, a empresa de carpintaria de Akbari sofreu até poucos anos atrás, quando ela encontrou ajuda através da BPeace, um rede não-lucrativa, de profissionais da área de negócios, que apóiam voluntariamente aos empreendedores afegãos e de outras áreas de conflito. Logo após, Akbari se tornou uma estudante do Goldman Sachs 10,000 Women na Universidade Americana do Afeganistão. “Eu aprendi muito no programa 10,000 Women”, diz Akbari. “ Eu aprendi a importância da administração do tempo e que eu deveria estar no trabalho 10 minutos antes que qualquer outra pessoa. Eu aprendi a ser mais organizada”. Durante uma recente visita aos Estados Unidos, para participar de um treinamento para aperfeiçoamento na área de negócios, Akbari observou com atenção o arranjado desenho das mercadorias nas prateleiras. “No afeganistão, nós fazemos cadeiras e bancos e não apresentamos eles de forma organizado. Se precisamos mostrar um produto, temos que retirá-lo do meio de um monte de outros produtos que estão lá”.

Algumas lições de recursos humanos do treinamento no programa 10,000 Women, influenciaram as recentes decisões de Akbari, particularmente no que se trata de contratar membros da família para trabalhar no negócio, uma prática afegã comum. Embora seu filho e sua filha trabalhassem ambos para no seu empreendimento, a contribuição de ambos era desigual. “Minha filha estava bem, mas meu filho Zaman não correspondia à minha expectativa”, confessa Akbari. “ Mesmo que seus empregados sejam da familia, eles tem responsabilidades e devem responder pelo que lhes é designado”.

Estabelecendo limites

É comum aos donos de negócios no Afeganistão contratar membros da família, por serem de confiança – mas isso não significa que eles sejam produtivos – diz Mahbouba Seraj, instrutora do 10,000 Women. Homens afegãos, como no caso de Zaman, frequentemente entitulam-se mais donos do negócio, o que não necessariamente traduz um forte senso ético. “Não estamos muito acostumados a falar abertamente uns com os outros no Afeganistão, e acabamos criando problemas dessa ordem”, pontua Seraj, especialista em gestão de negócios familiares. “Eu digo às mulheres empreendedoras que elas não devem tratar os membros da familia de maneira diferente dos outros empregados. Elas devem comunicar suas expectativas desde o princípio, oferecer um período de experiência aos familiares e acompanhar de perto o progresso de cada um deles. Se os limites forem estabelecidos, elas podem evitar uma série de problemas. Do contrário, os membros da família acabam tirando proveito da situação, especialmente os rapazes”.

Uma empreendedora que continuamente se vê frustrada em suas expectativas em relação a produtividade de um membro da familia, deve agir imediatamente – Diz Seraj. “Eu sugiro que ela diga: Ponha-se no meu lugar, o que você faria nessas circunstâncias? Eu tenho essa empresa e devo produzir essa quantidade e você não está cumprindo com sua parte. Como resultado, estamos perdendo a confiança dos clientes e perdendo dinheiro”.

Akbari foi categórica na abordagem e resolução da situação com seu filho: “Eu decidi que, se meu filho não trabalhava corretamente, então ele não deveria trabalhar nesta empresa. Eu disse à ele para ir para onde ele se sentisse mais adaptado”- diz ela. Zamam agora está engajado no Serviço Militar Afegão, e Shahia, outra estudante do 10,000 Women, deixou a empresa para abrir sua própria fábrica de sapatos, a Creative Afghan Women.

Akbari mapeou a estratégia de sua empresa para os próximos 5 anos: “meu plano mais importante é mudar-me para um prédio real, porque até agora, estamos trabalhando embaixo de tendas”, diz ela. “Eu quero construir uma fábrica”. Akbari espera começar uma divisão de negócios que recicla a serragem e o papel usado, resíduos de sua própria produção, transformando-os em caixas de papelão. “Dessa forma, posso empregar mais mulheres e ajudar o meio-ambiente”.

Fonte: Knowledge Wharton - 10,000 Women Program.

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